• 234 377 430
  • comunicacao@diocese-aveiro.pt
bispo
Deus caminha connosco – Homilia

Deus caminha connosco – Homilia

Jubileu Diocesano

Deus caminha connosco

1. “Ide a todo o mundo e proclamai a Boa Nova a todas as criaturas(Mc 16,15)

Celebramos hoje a festa da Ascensão do Senhor, e a Palavra de Deus convida-nos a alargar os horizontes da missão e a levar o Evangelho como boa notícia a todos os povos, concretamente, a toda a nossa diocese de Aveiro e cada uma das suas comunidades.

Uma leitura superficial desta festa da Ascensão pode criar em nós uma sensação de orfandade e de abandono diante da partida definitiva de Jesus, mas nós sabemos que «Ele está connosco até ao fim dos tempos». Esta é a fé que animou sempre as comunidades cristãs. Não estamos sós, abandonados às nossas próprias forças e ao nosso pecado. Cristo está connosco. Temos necessidade urgente de recuperar uma verdadeira teologia da presença de Cristo na sua Igreja, isto é, não esquecer nunca a presença viva do Senhor no coração de toda a comunidade cristã. O Senhor ressuscitado está na Eucaristia a alimentar a nossa fé. Está na comunidade cristã infundindo o seu Espírito e impelindo à missão. Está nos pobres movendo os nossos corações à compaixão. Está connosco todos os dias até ao fim do mundo.

O texto dos Atos dos Apóstolos revela como as primeiras comunidades cristãs puseram em prática o mandato de Jesus de serem testemunhas até aos confins do mundo, continuando a missão iniciada por Ele na Galileia. «Quando e Espírito Santo vier sobre vós, recebereis uma força e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra» (At 1,8).

Da vida dos primeiros discípulos de Jesus ressalta o serviço aos mais pobres, como o sinal distintivo da vida da Igreja. A nossa Síntese Diocesana Sinodal pede que sejamos uma Igreja que sabe acolher, escutar, integrar e acompanhar a todos os que se identificam com Jesus, sem fazer aceção de pessoas, de grupos ou movimentos e procurar ir ao encontro das suas reais necessidades. Se a Igreja não está ao serviço de todos, para que serve então? (SDS 33). É a nós hoje que se pede sermos testemunhas de Jesus vivo e ressuscitado e sermos capazes de passar este testemunho às futuras gerações.

2. A fecundidade do Espírito de Deus

«Os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora» (EG 92). Mas não se chega à meta e ao objetivo permanecendo confortavelmente sentados, esperando que tudo venha ao nosso encon-

tro. Toda a renovação autêntica exige coragem, dinamismo e conversão interior de pessoas e estruturas.Sesairmos de nós mesmos, encontramos Deus e o próximo. Jesus chama ao seguimento em comunidade para anunciar, oferecer e construir o Reino na história dos homens. A pequena comunidade é efetivamente o lugar onde é possível aprender os valores fundamentais do novo estilo de vida que Jesus propõe: a partilha dos bens, a fraternidade e igualdade entre todos, o poder como serviço, o ser homem e mulher, a estima recíproca.

A vida comunitária, a vida espiritual e a vida apostólica devem ser capazes de inspirar experiências novas. Comunidades que, em conjunto, partilham, rezam, celebram e ajudam a discernir sobre os sinais e a vontade de Deus tornam-se oásis para o florescimento de novas vocações. A prioridade será criar condições de possibilidade de encontro com Cristo, procurado na interioridade, seguido no Evangelho e reconhecido no rosto dos irmãos, através de uma vida de oração, de liturgia e compromisso social.

Olhando-nos cada dia ao espelho, humildes e vigilantes, procuremos ‘deixar-nos tocar’, viver no Espírito e segundo o Espírito. É do testemunho e da vivência concreta que podem vir as mudanças. Conscientes de que os frutos do Espírito não são a desilusão, a tristeza, a solidão, a separação, mas a confiança, a alegria, o acolhimento, a comunhão e o serviço, cabe a cada cristão – dentro da sua comunidade ou movimento – discernir com mais profundidade os desafios da ação pastoral, para compreender a realidade e buscar caminhos.

3. Uma Igreja que não tem medo de arriscar

Hoje está aqui reunida a nossa diocese de Aveiro com os seus pastores e diáconos, consagrados e leigos, para vivermos a alegria de nos sentirmos amados por Deus e celebrarmos o Jubileu dos 600 anos do início da construção da nossa Catedral, e tudo o que ela significa na nossa vida eclesial.

Temos que nos congratular e alegrar com a forma como decorreu o Ano Jubilar, mas a celebração não termina hoje; constitui uma forte motivação para revigorarmos a vida da Igreja. A instituição no ministério de Acólito do nosso finalista de teologia Rafael Malaquias Oliveira e a admissão às ordens sacras do Guilherme Pinheiro Matos dos Reis e do João de Abreu Rendeiro são um presente e um dom do bom Deus à nossa Igreja de Aveiro. Temos de empenhar as nossas paróquias numa verdadeira cultura vocacional através da promoção de vocações à vida matrimonial, sacerdócio e de consagração. Ele chama ao seguimento em comunidade para anunciar, oferecer e construir o Reino na história dos homens e mulheres nossos contemporâneos.

Com data de hoje, é dada a conhecer a Carta Pastoral Deus Caminha Connosco, quesintetiza a visita pastoral a todas as paróquias da Diocese e faz uma reflexão do que foi a vida pastoral destes quase dez anos de ministério episcopal nesta Igreja de Aveiro, terminando com alguns desafios considerados importantes para o próximo triénio pastoral.

A Igreja é de Cristo – daqui a necessidade, para todos, de uma conversão a Ele como único Senhor. São Paulo convida-nos a preparar a vinda do Senhor, assumindo três atitudes: a alegria constante, a oração perseverante e a ação de graças contínua. Todos somos chamados a olhar o presente e o futuro da Igreja. Guiados pelo Espírito Santo, queremos ser “teia de esperança”, com a qual Cristo edifica a Igreja de Aveiro. Não tenhamos medo de arriscar quando se trata de fazer opções pastorais. Querer resultados diferentes com os mesmos processos é absurdo e suicídio. Aquilo que hoje parece impossível, o Espírito Santo se encarregará de confirmar no caminho da verdade. E quando há obstáculos no caminho, procuremos agir com a caridade e a paciência pastoral de Jesus. A misericórdia e a caridade devem ser critérios fundamentais em todos os processos de renovação (SDS 31).

Agradeço ao Senhor por este ano jubilar. Parafraseando o Papa Francisco, só quem sabe agradecer experimenta a alegria plena. Agradeço à Comissão do Ano Jubilar que, de forma generosa e zelosa, concebeu um vasto e diversificado Programa que, com celebrações vivas e significativas, possibilitou a concretização dos objetivos desta efeméride que queremos seja um marco histórico, existencial e religioso na vida das comunidades diocesanas. Gratidão também para com todos os sacerdotes, consagrados e leigos que se empenharam neste Ano jubilar.

Faço votos para que, olhando o céu com os pés na terra, o Jubileu seja para todos nós a oportunidade de renovar o empenho missionário, intensificar o sentido de pertença e fortalecer a unidade de toda esta Igreja Particular.

Amen.

_____

Catedral de Aveiro, 11 de maio de 2024

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *