
Homilia Santa Joana / Encerramento do Ano Jubilar
Estamos a encerrar o Ano Jubilar da nossa catedral que celebra os 600 anos do lançamento da primeira pedra da Igreja do Convento de Nossa Senhora da Misericórdia e, desde 1938, Igreja Mãe desta nossa diocese de Aveiro. Começámos o ano passado o Jubileu no dia de Santa Joana Princesa e hoje, por força do calendário litúrgico, também é a solenidade da nossa padroeira Santa Joana.
Diz-nos S. Mateus que Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar. Reuniu-se a Ele uma tão grande multidão, que teve de subir para um barco, onde se sentou, enquanto toda a multidão se conservava na praia e falou-lhes de muitas coisas através de parábolas.
O Evangelho agora proclamado ajuda-nos a entender a vida de Santa Joana Princesa que compreendeu a mensagem da Jesus que convidava os seus ouvintes a conquistar o Reino de Deus, ainda que tivessem desacrificar tudo o que tinham.
Embora pequeno na aparência, o Reino é um autêntico tesouro e uma pérola de grande valor, pelo qual vale a pena lutar e vender tudo para o conseguir. Não se insiste nas renúncias e nos sacrifícios que isso supõe, mas na grande e contagiante alegria da conquista.
O reino de Deus é muito diferente dos valores que imperam no mundo, mas ao longo da história, muitos foram os que deram a sua vida para conseguir este tesouro. A presença de Santa Joana na nossa cidade e diocese mostram isto mesmo.
Os desafios deixados no Ano Jubilar da nossa Catedral é sermos “teia de esperança”. É preciso pensar novos caminhos, escutar o que o Espírito Santo diz a esta Igreja de Aveiro, reconhecer os problemas que existem. Todos os membros do Povo de Deus (leigos, religiosos e sacerdotes) são necessários numa comunidade evangelizadora. Todos estão chamados a ser membros ativos e responsáveis. Somos “teia de esperança” em que cada um participa com os seus dons e talentos. A Igreja é chamada a ser, antes de mais, a exemplo de Santa Joana, a Igreja da santidade, da oração, do silêncio, da vida interior, da contemplação do rosto de Cristo, antes de anunciá-lo. O rosto de Cristo sofredor presente nos pobres, imigrantes, doentes, excluídos, sem casa e sem saúde… são rosto da Igreja e de cada um de nós no anúncio de Jesus Cristo. A opção pelos mais pobres, sejam quais forem as formas de pobreza, é fundamental para a credibilidade do Evangelho e das nossas paróquias.
A sinodalidade que todos vivemos em Igreja implica recetividade à mudança, formação e aprendizagem permanente. Para que o projeto do Reino de Deus na sua visibilidade eclesial incarne na cultura atual, com significado e sentido para todo o Povo de Deus, é necessário iniciar processos e caminhos de renovação e de reforma nos diferentes âmbitos e mediações da ação eclesial; passa pela conversão pessoal de cada batizado para que se torne discípulo missionário de Jesus; passa pela renovação das estruturas e dos mecanismos que garantem a comunhão e a participação de todos na missão; passa pela escuta atenta do que o Espírito diz à Igreja e consequente discernimento para encontrar novos modos e meios para que o Evangelho seja comunicado e vivido com alegria. Como nos recomenda o Papa Francisco, é bom e desejável ter as portas das igrejas abertas, mas de pouco servirá se as portas da Igreja-comunidade, que é o coração de cada de um de nós, não se abrirem também para acolher. É fundamental aprender a ouvir-nos uns aos outros – bispos, padres, religiosos e leigos; todos os batizados.
Precisamos de comunidades que cresçam numa lógica de corresponsabilidade eclesial e de impulso missionário. A missão tornou-se o paradigma da vida e da atuação da Igreja. É isto que desejamos continuar com o próximo triénio pastoral que estamos a preparar. Ele vai trazer-nos desafios novos no campo da corresponsabilidade eclesial, da presença e identidade da nossa comunidade eclesial.
A diocese de Aveiro sonha com comunidades cristãs que coloquem Cristo ressuscitado no centro da sua vida, vivam a comunhão como o sinal visível dessa presença e formem discípulos missionários que saibam dar razões da sua fé. Abrace cada um o caminho do renovamento conforme lhe for inspirado pela graça do Espírito de Deus, lembrando que para um conhecimento mais profundo da palavra de Deus é fundamental a oração.
Que Nossa Senhora da Glória, titular da nossa Catedral, e a Princesa Santa Joana, nossa padroeira, nos ajudem a trilhar caminhos de renovação, a viver e a dar frutos de santidade.
Aveiro, 13 de maio de 2024.
+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro