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Peregrinação Jubilar Estarreja/Murtosa

Peregrinação Jubilar Estarreja/Murtosa

  1. “Este é o Meu Filho muito amado. Escutai-O”:

      «A passagem do Evangelho do Segundo Domingo da Quaresma é sempre o relato da Transfiguração», afirma o Diretório Homilético (n. 64), para depois explicar com autoridade: «A Transfiguração ocupa um lugar fundamental no tempo da Quaresma, uma vez que todo o Lecionário Quaresmal é um guia que prepara o eleito entre os catecúmenos para receber os sacramentos de iniciação cristã na Vigília Pascal, assim como prepara todos os fiéis para se renovarem na vida nova para a qual renasceram. Se o primeiro domingo da Quaresma é uma recordação particularmente eficaz da solidariedade que Jesus partilha connosco na tentação, o segundo domingo lembra-nos que a glória fulgurante do corpo de Jesus é a mesma glória que Ele deseja partilhar com todos os batizados na Sua morte e ressurreição» (n. 67).

      O evangelho da Transfiguração procura responder ao episódio de Cesareia de Filipe com o qual começa a segunda parte do Evangelho de Marcos e onde Jesus pergunta aos seus discípulos o que pensam dele. Os três anúncios da morte e ressurreição de Jesus fazem-nos entrar no mais profundo do Reino de Deus. Jesus cita o profeta Daniel (7,13: contemplando sempre a visão noturna vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um Filho do homem) onde na sua condição humana – sofrimento e morte – aceita os planos de Deus, enquanto os discípulos não entendem que o Messias tenha de sofrer e morrer.

      Na primeira parte do evangelho de S. Marcos o Pai confessa, no Batismo, que Jesus é Deus, tal como o possesso/demónio confessa a divindade de Jesus. Pedro, ao contrário, tem uma conceção triunfalista de messianismo, aceitando Jesus como Messias iluminado pela fé, mas não o seu programa de vida. Ele quer dissuadir Jesus e chama-O à parte. Jesus, por seu lado, chama-o de Satanás, porque tem a tentação do poder, do triunfo, tal como os outros discípulos que no caminho discutiam qual deles seria o maior, quando o exemplo de Jesus é totalmente o contrário (Mc 9, 34; 10,35-45)).

      Na Transfiguração o Pai está presente no caminho de Jesus e confirma a sua decisão de se dirigir para Jerusalém.

2. Desafios da peregrinação jubilar à Catedral

No dia 13 de maio de 2019, no encerramento da visita pastoral ao vosso arciprestado de Estarreja/Murtosa, desafiei as vossas paróquias a construirmos a comunhão porque todos somos necessários no anúncio do Evangelho, a formação cristã de todos os batizados, a opção pelos jovens e a promoção de vocações para o matrimónio, sacerdócio e de consagração.

A Síntese sinodal da nossa diocese e na qual existe também o vosso contributo, afirma que a Igreja, na sua relação com o mundo e cultura atuais enfrenta grandes desafios e reclama-se um outro modo de presença, onde se acolhe e se escuta. O grande desafio é, pois, testemunhar a alegria e a vontade em viver os desafios do Evangelho num mundo que não se conhece e numa cultura que não se compreende.

É necessário criar e implementar projetos de catequese para todas as idades da vida. A catequese de adultos é residual e desadequada. A catequese infantil precisa de ter um estilo menos escolar, menos colada ao ano letivo escolar e com a família mais empenhada na educação cristã dos seus filhos. A formação bíblica tem de ser uma prioridade e não apenas fruto de eventos pontuais e sem critério. É necessário combater a ignorância religiosa em ordem a um maior revigoramento no compromisso cristão.

A corresponsabilidade e a comunhão de todos na vida da Igreja constroem-se em processo, no modo como se tomam determinadas atitudes e como se decide. A tomada de decisão sobre as opções pastorais de uma paróquia deve ser feita com as estruturas de participação e corresponsabilidade: conselho económico e conselho pastoral, escutando e refletindo os contributos de todos os seus membros e não apenas do pároco. Onde não existem estes conselhos, é urgente que se criem. Dar mais importância e voz aos conselhos pastorais é uma prioridade pastoral.

Tal como Pedro, Tiago e João, somos todos chamados a tornar-nos cada vez mais discípulos da Transfiguração, ou seja, discípulos do Cristo transfigurado. Somos chamados concretamente a subir frequentemente com Ele ao monte, a “entrar na nuvem” do Espírito sem medo, e sobretudo a ouvi-lo e a segui-lo como o único caminho para o Pai, refletindo constantemente no íntimo da alma sobre todos os mistérios de Cristo e a guardá-los connosco para que também nós possamos ser transformados, aliás, transfigurados com Ele e n’Ele no nosso caminho cristão e missionário.

Ao longo do caminho que nos vai levar à Páscoa de Cristo é possível encontrar várias pedras: umas materiais, outras espirituais, umas boas, outras nem tanto, mas a verdade é que todas fazem parte do caminho e todas nos moldam e preparam para que, fortalecidos, motivados e atentos, procuremos Jesus, tal como refere o Evangelho da Transfiguração.

Apoiados na pedra angular que é Cristo, e sustentados com o seu amor, juntemos todas as pedras do nosso caminho e sejamos verdadeiras pedras vivas desta Igreja que é a nossa diocese de Aveiro. E, em alegria, celebraremos a Páscoa de Cristo Ressuscitado.

Peço a intercessão de Nossa Senhora da Glória, titular da nossa Catedral, da Princesa Santa Joana e de cada um dos padroeiros das vossas paróquias (Nossa Senhora com as invocações da Natividade, Bom Sucesso e Senhora das Areias, Santa Marinha, São Tiago, São Tomé, São Miguel, São Pedro, São Martinho, São Bartolomeu, São Mateus, Santo António, São Lourenço, São Paio e São Jacinto), neste caminho que nos vai levar à celebração da Páscoa de Cristo Ressuscitado.

Aveiro, 25 de fevereiro de 2024.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro.

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