Qua. Abr 24th, 2024

Artigo e foto recolhidos do SNPC

Cinco etapas, duas vitórias: é este o balanço da participação, até agora, na Volta a Portugal em Bicicleta deste ano da equipa italiana Amore & Vita, cujo nome principal, caso singular no ciclismo profissional, não é um patrocinador, mas um slogan.

«Eu já tinha a minha equipa de ciclismo, a Fanini, herdada do meu pai Lorenzo. Um dia, tive a ideia de arvorar na camisola uma mensagem importante para mim: “Não ao aborto!”. Fi-la imprimir nas camisolas, mas a União Ciclista Internacional (UCI) comunicou-me que não podia fazer esse género de campanha. Tive de renunciar», conta o empresário Ivano Fanini.

«Foi durante um dos meus 25 encontros com João Paulo II que ele me aconselhou a chamar a minha equipa de Amore & Vita», recorda o fundador da “squadra”, criada há 30 anos, mas com origem que remonta a 1948.

Trata-se, segundo a página da equipa, de uma «mensagem de solidariedade universal que está próxima de todas as pessoas, de qualquer cultura e crença». «A intenção de Fanini era, e ainda é, a de difundir através do desporto aqueles valores em que sempre acreditou, sobretudo através do ciclismo, uma disciplina que decorre em estreito contacto com a natureza, e onde prevalece a componente humana em relação à tecnológica», salienta a nota de apresentação.

«Temos oficialmente a base na Letónia, dado que não podemos respeitar a regra especificamente italiana que nos obriga a ter metade do nosso efetivo com menos de 23 anos. Em Itália, estes são muitas vezes mais bem pagos que os nossos corredores profissionais; é o mundo do avesso», acrescenta o filho, Cristian Fanini.

O antigo corredor da equipa, e seu atual gestor, trabalha nos negócios da família – o comércio de automóveis e o aluguer de uma mansão do século XVII –, mas boa parte do tempo é dedicado às duas rodas.

«Há uma boa dezena de anos, o meu pai passou-me o testemunho. Por isso decido tudo: recrutamento dos corredores, participação nas corridas, escolha do material, e mesmo o desenho das camisolas, que faço desde 1989», assinala.

Não é só na estrada que se luta por um lugar, primeiro há que vencer o combate das finanças: «O orçamento da equipa é de cerca de um milhão de euros. Para conseguir voltar ao “Giro” [Volta à Itália], o meu sonho, são precisos quatro. O nervo da guerra continua a ser, portanto, o dinheiro. Precisávamos de um ou mais patrocinadores, tendo em conta que a família Fanini cobre hoje 40% do orçamento».

O sonho de Cristian não é o do pai, que tem sobre a competição velocipédica uma perspetiva dececionada: «A situação no ciclismo não evoluiu. Piorou. Se queres ganhar corridas, tens de aderir ao sistema e dopar-te. Então, para mim, que travei enormes batalhas contra a dopagem…».

Nos anos dourados da equipa, Ivano Fanini dava uma segunda oportunidade aos corredores envolvidos na dopagem: «Sou um católico convicto, e perdoar é uma das ações que é preciso concretizar». E recorda: «Muitas vezes tive na minha equipa jovens que tiveram problemas com droga ou dopagem. Para alguns, funcionou, para outros não».

Os dirigentes da equipa estão convictos de que a atitude da Amore & Vita perante a dopagem, ao contrariar a generalidade das equipas profissionais italianas, lhe custou a exclusão das competições transalpinas mais importantes, incluindo o “Giro”.

Em 1999, a equipa passa a denominar-se Amore & Vita Giubileo–Beretta, tendo em atenção o jubileu do ano 2000, e abrem-se as portas a alguns dos melhores corredores polacos, evocando o país de nascimento de S. João Paulo II.

Composta, este ano, por 15 ciclistas de cinco países, a equipa que este ano assinou um contrato de fornecimento de bicicletas com a empresa portuguesa Jorbi, válido até à temporada de 2020, prevê ter até dezembro 100 dias de competição.

Considerada a equipa profissional mais antiga, a Amore & Vita tem um historial de vitórias que inclui 12 campeonatos do mundo, 50 títulos nacionais (em Itália e noutros países) e cerca de três mil vitórias.

A equipa procura regressar aos sucessos dos tempos passados, tendo como um dos principais objetivos subir da terceira para a segunda “divisão” da UCI, com o propósito de, assim, poder voltar a candidatar-se a participar no “Giro”.

Aos 68 anos, Ivano Fanini não se arrepende da sua original abordagem ao desporto, à vida e às convicções de fé. Sobre a campanha contra o aborto, afirma convictamente: «Voltaria a fazê-la». E conclui: «As minhas referências permaneceram as mesmas: o ciclismo, os valores da Igreja, a família».

ImagemCom S. João Paulo II | D.R.

Rui Jorge Martins
Fonte: Le Temps
Imagens: D.R.