Qua. Abr 24th, 2024
Artigo e foto recolhidos do SNPC

O ensaísta Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes 2020, atribuído pela Igreja católica, através do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, para destacar um percurso ou obra que, além de atingirem elevado nível de conhecimento ou criatividade estética, refletem o humanismo e a experiência cristã.

«Numa atenção compreensiva e crítica aos problemas culturais e sociais emergentes no mundo contemporâneo e numa renovadora mitografia do ser lusíada, desde há meio século Eduardo Lourenço constituíu-se no mais reputado pensador português da atualidade», destaca a justificação do júri, que atribuiu o Prémio por unanimidade (texto integral nos artigos relacionados).

«Foi para mim uma grande surpresa. Já não estou em idade para receber prémios, mas tive uma grande satisfação e honra, não tanto por mim, mas pela grande admiração que tenho pelo Padre Manuel Antunes, velho amigo que sempre cultivou a exigência crítica e deixou-nos uma obra notável a que volto sempre com grande proveito», afirmou esta tarde Eduardo Lourenço, em declarações à Renascença.

Os jurados destacam que Eduardo Lourenço «nunca renegou os princípios e os ditames do humanismo cristão», mantendo-se «fiel aos seus fundamentos antropológicos, axiológicos e éticos, bem como à consequente “obrigação de suportar a liberdade humana” em todos os domínios».

«Tão oposto às panaceias ideológicas, prontas a cativarem ou alienarem a liberdade da vontade intelectual, quanto avesso à desolação do “niilismo spiritual” e à demissão das doutrinas relativistas, Eduardo Lourenço sustentou sempre, com desassombro e brilho, que a sua demanda de Conhecimento se queria coerente com o horizonte da “vivência mesma da Verdade”», acentua o júri

De acordo com o júri, Eduardo Lourenço obedeceu «“por temperamento e por formação espiritual”, à “única motivação radical» que “finalmente é como decisão de ordem ‘religiosa’ e mesmo ‘mística’ […] que melhor se compreenderá”».

«A incomensurável Transcendência divina» tem, para o ensaísta, «o Mediador imprescindível em Cristo, arquétipo da abertura amorosa do Eu ao Outro e de um sentido redentor para o Tempo», aponta o júri, composto pelos bispos D. João Lavrador e D. Américo Aguiar, P. António Trigueiros, S.J., Maria Teresa Dias Furtado, Guilherme d’Oliveira Martins e José Carlos Seabra Pereira.

Nascido a 29 de maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, Almeida, Eduardo Lourenço formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, onde foi professor entre 1947 e 1953, lecionando depois depois em várias universidades, no Brasil e na Europa. Foi, durante mais de dez anos, administrador não-executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

“Heterodoxia I” (1949), “Fernando Pessoa Revisitado: Leitura Estruturante do Drama em Gente” (1973), “Tempo e Poesia” (1974), “O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português” (1978), “O Espelho Imaginário” (1981), “A Europa Desencantada: para uma Mitologia Europeia” (1994), “O Esplendor do Caos” (1998) e “A Nau de Ícaro, seguido de Imagem e Miragem da lusofonia (1999) são alguns dos títulos da sua vasta obra.

Entre as distinções recebidas inclui-se o Prémio Camões (1996), Officier de l’Ordre de Mérite (1996) e Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres (2000), ambas pelo Governo francês, Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2003), Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008) e Prémio Pessoa (2011). É doutor “Honoris Causa” pelas Universidades Nova, Coimbra, Bolonha e Rio de Janeiro.

O reconhecimento da Igreja católica consiste na atribuição da escultura “Árvore da Vida”, de Alberto Carneiro, acompanhada pelo valor pecuniário de 2500 euros, patrocinado pela Renascença.

Nas edições anteriores o Prémio galardoou o poeta Fernando Echevarría, o cientista Luís Archer S. J., o cineasta Manoel de Oliveira, a classicista Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o trabalho de diálogo entre Evangelho e Cultura levado a cabo pela Diocese de Beja, o compositor Eurico Carrapatoso, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o pedagogo Roberto Carneiro, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, a artista plástica Lourdes Castro, o professor de Medicina e Bioética Walter Osswald, o ator e encenador Luís Miguel Cintra, o ator Ruy de Carvalho e o historiador José Mattoso.

Rui Jorge Martins
Imagem: Eduardo Lourenço | D.R.