Sex. Mar 29th, 2024

POR DETRÁS DA BÍBLIA XII

APÓCRIFOS DO ANTIGO TESTAMENTO 11

Pe. Júlio Franclim do Couto e Pacheco

Leia, aqui, José e Asenath

                O nome «apócrifos» é dado a um vasto grupo de obras judaicas, compostas na maior parte entre 200 a.C. e 100 d.C., que têm em comum o facto de serem conhecidas através de traduções feitas por cristãos e não através da tradição hebraica ou descobertas arqueológicas. Estas obras têm, além disso, em comum o facto de não pertencerem a nenhum cânon, à excepção do chamado Henoc Etíope, canónico na igreja cristã copta, em cuja língua se conservou inteiramente.

                As línguas nas quais os apócrifos chegaram até nós são muito numerosas; vão desde o grego ao latim, do siríaco ao etíope, do paleoeslavo ao georgiano, do copta ao arménio. A leitura destes textos e o seu uso global para escrever a história do pensamento judaico, são muito difíceis, porque os estudiosos do hebraísmo, que são os únicos em condições de perceber o pensamento destas obras, não podem conhecer todas as línguas em que estes textos foram traduzidos e chegaram a nós. A causa pela qual estas obras andaram perdidas na tradição hebraica tem a ver com o facto de elas em geral não exprimirem ideias admitidas pela corrente judaica que, depois da destruição do Templo (70 d.C.) soube impor-se a todas as outras até se tornar «o judaísmo». Esta corrente foi a farisaica.

                Os cristãos, que não tinham particulares motivos para se oporem a estas obras, traduziram-nas e transmitiram-nas, mesmo se não as consideraram canónicas e acabaram eles mesmos por as esquecer na sua maior parte.

                Muitos autores hebreus escreveram em grego, embebidos pela cultura grega, primeiro de todos Fílon de Alexandria. Estes tiveram dificuldade em compreender a sua tradição judaica talvez não menos que nós. Refugiaram-se no método alegórico, que lhes permitia superar muitas dificuldades, mas já não compreendiam o que era a expressão mitológica.

                A partir da nossa era, ambientes judaicos escreveram também aqueles textos religiosos que depois se tornaram o Novo Testamento. É questão controversa se os originais pelos menos duma parte destas obras teriam sido escritos directamente em grego, ou se o grego que chegou a nós não será sobretudo uma tradução de originais hebraicos perdidos. A esta época pertencem também os targumim palestinenses, traduções em aramaico amplamente parafraseadas da Bíblia canónica, nas quais foram transmitidas interpretações particulares do texto e complexos conceitos teológicos que doutra forma teríamos perdido. A esta época pertence ainda uma boa parte do material mishnaico, uma recolha de discussões e de pareceres rabínicos à volta de problemas interpretativos da Lei.