
Oratório Peregrino
Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com
Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro
XXIII Passo | A ORAÇÃO É APOSTÓLICA E ECLESIAL
- É característica da doutrina teresiana que a amizade com Deus se transforme em comunhão de interesses, em súplica de intercessão apostólica pela Igreja e pelos homens:
– as próprias páginas dos seus escritos convertem-se em diálogo com Deus pela Igreja e pelas almas;
– podemos encontrar exemplos concretos disto em várias passagens do Caminho de Perfeição e em geral nas Exclamações.
- A vida de amizade com Deus e o seu exercício desemboca numa intensa preocupação pelas “coisas” de Deus:
– ela mesma, chegada ao cume da sua vida mística, após a experiência eclesial, orienta toda a sua existência para o serviço do Reino de Deus;
– as últimas páginas do Castelo Interior ou Moradas, mais do que um antegozo da glória, são um hino e um panegírico da vida apostólica: “Para isto é a oração, filhas minhas, para isto serve este matrimónio espiritual: que nasçam sempre obras, obras” (7M 4, 6).
- Deste aspecto apostólico da oração faz uma instituição original da Igreja: a vida contemplativa do Carmelo ao serviço da Igreja peregrina:
– por isso exorta às suas filhas a que sejam perfeitas, para que o Senhor escute as suas orações: “Peço-vos que procureis ser tais que mereçamos alcançá-las (estas graças) de Deus” (C 3, 5);
– é neste serviço eclesial da oração que ela estabelece a essência do seu Carmelo: “Quando as vossas orações e desejos e disciplinas e jejuns não se empregarem nisto que digo, pensai que não fazeis nem cumpris o fim para que vos juntou aqui o Senhor” (C 3, 10).
– imagem viva desta doutrina é Teresa de Lisieux, que encontrou nos ensinamentos da Madre Fundadora o ideal da sua vocação: o amor no coração da Igreja.
Deixemos que a oração de Santa Teresa entre nos nossos corações e nos comunique os seus sentimentos de amor para com Deus e para com os outros:
«Oh Deus da minha alma, que pressa a nossa para Vos ofender e ainda maior a Vossa para nos perdoar!
Oh que coisa grave é o pecado, pois foi o suficiente para dar a morte a Deus com tantas dores! E quão cercado estais delas, meu Deus! Aonde podereis ir que não Vos atormentem? Por todo o lado os mortais enchem-vos de feridas.
Oh cristãos, é tempo de defender o Vosso Senhor e de lhe fazer companhia em tão grande solidão. São muito poucos os que O acompanham. Mas o pior é que em público, mostram-se amigos d’Ele, mas depois, em segredo, vendem-nO. Praticamente não encontra ninguém de quem se fiar. Oh verdadeiro Amigo, como é mau pagador quem Vos atraiçoa! Oh verdadeiros cristãos, ajudai a chorar o Vosso Deus, porque aquelas piedosas lágrimas não foram só por Lázaro, mas também pelos que não haviam de querer ressuscitar, apesar de Deus os ter chamado em alta voz. Ressuscitai estes mortos. Que a vossa voz, Senhor, seja tão poderosa, que embora não Vos peçam a vida, Vós lha deis, para que saiam dos seus pecados.
Lázaro não pediu que o ressuscitásseis, mas Vós o fizestes para atender a oração de uma mulher pecadora. Eis aqui uma, meu Deus, e muito maior; fazei resplandecer a Vossa misericórdia. Eu vo-lo peço por aqueles que não querem pedir. Vós meu Deus já sabeis o quanto eu sofro por vê-los tão esquecidos da vida eterna e não se voltarem para Vós.
Oh, vós que estais habituados a uma vida de gozo, a satisfazer sempre a vossa vontade, tende pena de vós mesmos! Olhai que estais destinados às alegrias eternas, à paz e à comunhão com O vosso Deus, onde não há penas nem tristezas, nem lágrimas, mas amor sem fim e felicidade sem limites. Deixai a dureza dos vossos corações e voltai-vos para Deus. Ele é a vossa verdadeira Vida.
Dizei-Lhe: Deus de bondade voltai para nós a luz do Vosso Rosto e dai-nos a Vida, a Vossa Vida e nada nos poderá separar de Vós. Bendito sejas Senhor porque és Tu o nosso Verdadeiro Amigo!
Amen.»
Santa Teresa de Jesus