
Oratório Peregrino
Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com
Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro
XII Passo | Cristo Ponto de Chegada
Um dia descobrimos que orar é procurar o Amigo.
Soubemos por Teresa que Ele estava no mais profundo do nosso ser.
Determinámos empreender o caminho até Ele e, para isso,
tivemos em conta certas exigências, uma certa bagagem,
baseada na fé e na nossa própria psicologia.
Percorremos as etapas prévias.
Aceitámos a sugestão de seguir este método simples e eficaz
chamado oração de recolhimento. E, chegados ao fim… o que acontece?
É que sabemos que demasiadas técnicas de vazio mental
conseguem realmente levar o homem até ao seu EU profundo,
mas para confrontá-lo simplesmente com isso,
com um GRANDE VAZIO.
Será até aqui que conduz
o recolhimento teresiano?
CRISTO: PONTO DE CHEGADA
Para Teresa, recolher-se não é uma operação que se justifique por si mesma. É apenas um meio para fazer-se presente ao OUTRO.
É belo descobrir a própria interioridade como uma possibilidade de realização pessoal, mas a descoberta de nós mesmos como templo ou castelo luminoso – por muito paradisíaco que o imaginemos – não seria suficiente. Seria um tanto frustrante se não chegássemos a descobrir Aquele que nele habita e em Quem somos, nos movemos e existimos. A alma sem a presença de Deus, o recolhimento sem a descoberta de Cristo, seria como um céu sem Deus, um sacrário sem Eucaristia, uma soledade sem companhia. Numa palavra: um VAZIO.
Por isso Teresa apressa-se a tornar urgente o encontro com Cristo e a oferecer-nos todo um leque de possibilidades para nos relacionarmos com Ele por meio da oração.
Vejamos uma:
EDUCAÇÃO PARA A PRESENÇA
Voltamos a insistir. Para a Madre, o maior aliciante que podemos ter quando buscamos a Deus é que Ele mesmo, antes de nós, eternamente antes, já nos busca a nós. Olha-nos antes que olhemos para Ele. Está a falar connosco quando ainda somos incapazes de articular uma palavra. O nosso esforço por descobri-l’O é tão só uma resposta do nosso amor ao seu.
O primeiro conselho de pedagogia teresiana neste sentido é que aprendamos a “colocar-nos na presença de Cristo”. Dirigindo-se às suas filhas, diz-lhes: “Procurai logo, filhas, pois estais sós, arranjar companhia. E que melhor que a do mesmo Mestre… Representai-vos o mesmo Senhor junto de vós e vede com que amor e humildade vos está ensinando. E crede-me, enquanto puderdes, não estejais sem tão bom amigo” (C 26, 1).
Este esforço que a Santa nos pede não consiste em forçar, por exemplo, a imaginação para nos representarmos figurativamente Jesus diante de nós. Não. É antes uma espécie de “atitude” – feita de convicção de fé e de esforço psicológico – de nos tornamos presentes a Deus, sabendo que Ele está ali. Trata-se, pois, de um exercício de fé e de amor, misturado com concentração psicológica.
Vamos agora olhar para o coração de Jesus como nosso ponto de chegada, como terra firme onde queremos poisar os nossos pés.
«Era tudo muito bom»
A complacência de Deus significa Amor. Amor no qual tudo foi feito e sem Ele nada existe. Encontramos a criação como manifestação da complacência do Pai, em especial na criação do homem, quando Deus “contemplou tudo o que tinha feito, viu que era tudo muito bom” (Gen 1,31).
A criação por Amor e no Amor leva-nos a descobrir o Amor do Coração de Jesus como aquela terra firme onde podemos colocar os pés para olhar com confiança e esperança todas as coisas. Nesta terra firme que é o Amor do Coração de Jesus descobrimos a harmonia e a beleza do mundo, o sentido da vida, os valores que abrem todas as coisas ao infinito. Nesta terra firme do Amor, com Deus, nós descobrimos a Bondade de todas as coisas e rezamos: “É tudo muito bom!”
Passemos do acto criador de Deus para o rio Jordão e o monte Tabor e escutemos a voz do Pai que diz: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência; escutai-O» (Mt 17,5).
A eterna complacência do Pai acompanha o Filho em toda a sua “vida”, quando Ele se fez homem, quando acolheu a missão messiânica a realizar no mundo, quando dizia que o seu alimento era cumprir a vontade do Pai.
No fim, Cristo cumpriu esta vontade fazendo-se obediente até à morte na Cruz, e então aquela eterna complacência do Pai no Filho, que pertence à intimidade do mistério Trinitário, torna-se parte da história do homem. O Filho fez-se homem e enquanto tal, teve um coração de homem, como o nosso, com o qual amou e respondeu ao amor. Antes de tudo ao Amor do Pai e por isso no Seu Coração encontra-se a plenitude da complacência do Pai.
É a complacência salvífica. Com ela, o Pai, abraça e envolve todos os outros filhos, abraça-nos a nós no Coração de Cristo. Abraça e envolve todos nós, por quem o Filho Eterno se fez homem, por quem assumiu um coração humano, por quem deu a vida. No Coração de Jesus cada um de nós e o próprio mundo encontra-se com a complacência do Pai, com o Amor do Pai, com a Misericórdia de Deus.
Da plenitude deste Coração amoroso recebemos graça sobre graça (Jo 1, 16). Em Jesus é o amor que dita a plenitude do seu Coração. É um coração cheio de amor do Pai, cheio de modo divino e ao mesmo tempo humano. É verdadeiramente o coração humano de Deus-Filho. Um coração cheio de amor Filial: tudo o que Ele fez e disse sobre a terra, dá testemunho deste amor de Filho para com o seu Pai.
Por outro lado, este Coração amoroso revela continuamente o amor do Pai. Na verdade, “o Pai amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê tenha a vida eterna” (Jo 3,16). O Coração de Jesus está cheio de amor pelas criaturas que somos nós e pelo nosso mundo. Está cheio! Uma plenitude que não se esgota, não tem fim.
O Amor é a plenitude do Coração de Jesus e desta plenitude todos nós recebemos graça sobre graça. Só precisamos que a medida do nosso coração se dilate e se disponha a participar na superabundância de amor que se derrama sobre nós como graça do Eterno Pai, como complacência com que o Pai se compraz em nós.
Façamos silêncio e deixemos que estas palavras façam eco dentro de nós, lentamente vamos sentir o amor do coração de Jesus como terra firme dos nossos pés, como nossa segurança, como nossa paz:
«Encontrei, por fim o centro, o lugar do meu descanso e recolhimento, e quero que tu também o encontres. Vivamos dentro do Coração de Jesus contemplando o grande mistério da Santíssima Trindade, de modo que todos os nossos louvores e adorações saiam do Coração do nosso Jesus aperfeiçoadas e unidas às suas. Assim viveremos unidas à Humanidade de Nosso Senhor e abismadas na sua Divindade.»
Carmelo de Cristo Redentor