Qui. Abr 18th, 2024

O católico que fundou o Mundial de Futebol

Artigo publicado no Correio do Vouga

Talvez hoje ficasse dececionado por ver que o futebol é um negócio dominado pelo dinheiro. Jules Rimet acreditava que o futebol pode unir o mundo.

O grande futebol une pessoas e povos, mesmo que só uma equipa vença. Agora que os olhos de milhões estão nas meias finais e na final do próximo domingo, lembramos que foi um católico francês que criou o Mundial.

Trata-se de Jules Rimet, nascido no dia 14 de outubro de 1873 na aldeia francesa de Theuley. Quando era criança, serviu como acótilo na igreja local e, aos dez anos, mudou-se a Paris, pois a sua família procurava melhores condições de vida.

Quando em 1891 o Papa Leão XIII lançou a sua encíclica social “Rerum Novarum”, o jovem Rimet e seus amigos sentiram-se questionados pela preocupação do Pontífice perante a miséria na qual viviam as classes trabalhadoras e pela falta de reformas laborais. Inspirados pelo texto, o rapaz e seus companheiros fundaram uma organização para oferecer assistência social e médica aos mais pobres.

Mesmo já se tendo tornado advogado de sucesso, Rimet continuou a fazer obras de caridade.

O jovem francês gostava muito de desporto e tinha a firme convicção de que o desporto unia as pessoas, independentemente da raça e da classe social. Aos 24 anos, fundou um clube desportivo chamado “Red Star”, aberto a qualquer pessoa, fosse qual fosse a sua condição económica.

“Os homens poderão reunir-se com confiança, sem ódio nos seus corações e sem insultos nos seus lábios”, costumava dizer quando partilhava a sua visão do desporto. Naquela época, o futebol ainda era desprezado, pois era considerado um desporto da classe baixa e dos ingleses. Entretanto, Rimet decidiu incluí-lo no seu clube.

Em 1904, o advogado francês ajudou a fundar a Fédération Internationale de Football Association (Federação Internacional de Futebol –  FIFA). Quis organizar um campeonato internacional, mas o início da Grande Guerra atrasou os seus planos. Rimet participou da frente de batalha durante quatro anos e foi premiado com a Cruz de Guerra, uma condecoração militar francesa concedida àqueles que se destacaram por seus atos de heroísmo.

Após o fim da guerra, Rimet tornou-se presidente da FIFA, em 1921, e permaneceu durante 33 anos no cargo, o período de mandato mais longo na história da federação.

Os seus ideais sobre o desporto motivaram-no a criar em 1928 a Campeonato do Mundo, que foi disputado dois anos depois pela primeira vez no Uruguai. Jules Rimet levou à América do Sul o troféu que recebeu o seu nome até 1970, quando o troféu foi substituído pelo que é entregue atualmente.

O advogado católico liderou a FIFA até 1954 e, em 1956, foi indicado ao Prémio Nobel da Paz, por ter fundado o Mundial de Futebol.

No livro “Uma História do Futebol em 100 Objetos”, Yves Rimet, seu neto, recordava-o como um “humanista e idealista, que acreditava que o desporto podia unir o mundo. Comparado com as pessoas da sua época, ele percebeu que para ser realmente democrático e envolver as massas, o desporto internacional deveria ser profissional”.

Em entrevista ao jornal “The Independent” em 2006, Yves afirmou que o seu avô “ficaria dececionado ao ver que, atualmente, o futebol se converteu num negócio dominado pelo dinheiro. Essa não era a sua visão”.

 

Adaptado de www.acidigital.com