Sex. Mar 29th, 2024

Título: Evangelho de Marcos: Texto e comentário

Autor: Pe. Doutor J. Franclim Pacheco

Editora: Tempo Novo


Do prefácio (escrito por Luís Manuel Pereira da Silva)

Este era um livro improvável, ou mesmo impossível, antes do Vaticano II.

Não, primeiramente, porque o seu autor, Pe. Franclim Pacheco, não completara ainda uma década de vida quando, em outubro de 1962, foi inaugurado o concílio, mas sim pela natureza do seu conteúdo.

O evangelho de S. Marcos esteve, durante quase 1800 anos, na ‘sombra do seu irmão maior, o evangelho de Mateus, o qual se considerou como o evangelho primeiro e mais antigo.’[1]

[…]

O livro que temos, agora, em mãos, escrito por quem conhece, com detalhe e invejável memória, as palavras da Escritura, contribuirá, graças à clareza de descrição e à inteligência com que adivinha as interrogações do leitor, para substituir essa imprecisa visão sobre Marcos, restituindo-lhe o mérito que nunca devera ter perdido. Marcos fala para ouvintes|leitores envolvidos num difícil cenário adverso como o da Roma de meados do primeiro século, onde as ‘fake news’ sobre os cristãos abundavam (para as quais não contribuíra pouco o imperador Nero, responsabilizando-os pelo célebre incêndio que assolou a cidade, no ano de 64). Para estes cristãos, Marcos aponta que o seguimento de Jesus não se faz sem tomar a cruz mas com a certeza de que ‘era necessário que o Filho do Homem sofresse muito e fosse rejeitado pelos anciãos, sumos-sacerdotes e escribas, fosse morto e, depois de três dias, ressuscitasse’ (8,31). Uma tal mensagem é particularmente vincada no momento axial do evangelho, o momento da confissão de Pedro em Cesareia, onde a dinâmica própria de todo o evangelho se evidencia no diálogo algo duro entre Jesus e os discípulos: da insistência em que estão endurecidos os ouvidos e o coração (em estreito contraponto com a ideia de um ‘segredo messiânico’) passa-se ao convite à adesão e à entrega da própria vida, sabendo que no centro da decisão está a ‘pessoa e obra de Jesus’ (p. 10).

[…]’

[1] Gnilka, Joachim – El evangelio segun San Marcos: Vol.II – Mc 8,27-16,20. Salamanca: Sígueme, 1993, p. 421.