Qui. Abr 18th, 2024

Livro: Seguir Jesus pelo caminho da caridade

(Editora Tempo Novo, Outubro de 2017)

D. António Manuel Moiteiro Ramos

O nosso Programa de Pastoral para este ano pretende promover o estudo do Evangelho de Marcos em ordem à compreensão de que o exercício da caridade está alicerçado no seguimento de Jesus. Isto significa pôr-nos a caminho para a grande aventura da descoberta de Jesus, não numa linha teórica, mas vivencial e íntima, a fim de fazermos da nossa Diocese uma Igreja que vive a caridade na alegria da misericórdia, consciente de que o exercício da caridade é próprio do ser da Igreja e está alicerçado no seguimento de Jesus.

Na antiguidade cristã, o Evangelho de Marcos foi o menos comentado.

Não é de estranhar, porque tudo o que contém se encontra nos outros, que acrescentam importantes discursos e relatos.

Hoje, os comentaristas dão-lhe realce e estão de acordo ao afirmar que dos quatro Evangelhos que a Bíblia conserva, o de S. Marcos foi o primeiro que se escreveu e é o mais breve. A brevidade deve-se a este omitir quase por completo a doutrina de Jesus, limitando-se a apresentar a Sua Pessoa e a Sua atuação no meio dos homens.

A Boa Nova que o Evangelho de S. Marcos nos apresenta é a presença de Jesus no meio de nós. O Evangelho de Jesus identifica-se com o Evangelho de Deus (Mc 1,14). Logo no início do Evangelho se atribuem a Jesus dois títulos: “Cristo” e “Filho de Deus”.

Cristo é a palavra grega que traduz o hebraico “Messias” e que em português significa “Ungido”. Com esta palavra faz-se referência à unção divina dos sacerdotes e dos reis. Pedro confessa a sua fé afirmando este mesmo título em Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Perguntou Jesus aos seus discípulos. Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias.» (Mc 8,29).

Filho de Deus, no Antigo Testamento atribuía-se este nome aos profetas, aos reis, aos juízes, e até ao povo eleito. No Novo Testamento, o Pai designa Jesus como Filho no batismo do Jordão (Mc 1,11) e na Transfiguração (Mc 9,7). Alguns demónios que são expulsos das pessoas também O reconhecem como “Filho de Deus” e recebem a ordem de guardar silêncio (Mc 3,11; 5,7). Jesus aceita este título, o mesmo que o de “Cristo” no Sinédrio (Mc 14,61-62). O centurião romano confessa que Jesus é o “Filho de Deus” quando o vê morrer na cruz.

O Evangelho de S. Marcos podemos dividi-lo em duas partes: o primeiro apresenta a pessoa de Jesus e termina com o episódio de Cesareia de Filipe (Mc 8, 27-30). A segunda, parte desta convicção: quem se encontrou com Jesus Cristo deve segui-lO ao longo da sua vida, isto é, ser discípulo, seguindo o Mestre.

Faço votos que os temas agora apresentados possam ajudar-nos a sermos discípulos que incarnam o Evangelho de Jesus na vida do dia-a-dia.

Aveiro, 14 de setembro de 2017 (terceiro ano de início de bispo em Aveiro)

+ António Manuel Moiteiro ramos, Bispo de Aveiro.