Sex. Mar 29th, 2024

In Memoriam

Pe. João Gonçalves

[n. 28/03/1944 | ordenação presbiteral 21/12/1969 | m. 08/12/2020]

 


Testemunho | Luís Manuel Pereira da Silva

 

‘Há mais alegria no Céu…’

Chegou o ‘Hoje’ do Pe. João Gonçalves.

 

‘Tive fome… Tive sede… Estive preso…’

Hoje, o pe. João Gonçalves encontrou-se, face a face, com Aquele a quem, tantas e tantas vezes, reconhecera nos mais desfavorecidos, nas ruas da sua cidade, nas ruas de tantas cidades.

E quão bem-humorado terá sido este definitivo encontro! …porque, para o Pe. João, Deus é Amor …e Humor! Ao escrever estas linhas – que bem gostaria de lhas dar a ler -, invade-me uma pontinha de inveja por tão cedo o Céu ter sido privilegiado com a sua presença feliz e bem-humorada.

Mas é assim a vida dos profetas.

O seu tempo, longo ou curto, é um permanente antecipar da ‘Hora’, em que os pequenos encontros preparam o definitivo, eterno e terno… pois o Pe. João olhava como quem vê a alma do outro com a luz do coração.

‘Há mais alegria no Céu’, pois!

Evoco estas palavras do evangelho de S. Lucas, fazendo o que o Pe. João tão bem fazia: dizendo tanto com tão pouco.

Elas recordam-me que a alegria do Pe. João é, agora, privilégio do Céu (e da nossa memória feliz!). Há mais alegria porque o Céu acolheu, para sempre, o humor único e inteligente do pe. João…

‘Há mais alegria no Céu’ evoca, ainda, porém, o que de mais belo teve a vida do pe. João: ‘Há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende…’

A ele ouvi uma das mais densas histórias que me foram contadas sobre perdão e arrependimento.

Contou, num encontro sobre a dignidade da pessoa que é presa, uma história que lhe fora contada por um responsável brasileiro pela pastoral penitenciária.

Após a condenação de um homicida, a mãe da vítima, cristã, soubera que também era cristã a mãe do homicida do seu filho.

Certa de que esta mãe não educara o seu filho para ele ser um homicida, marcou encontro com ela para a páscoa desse ano, o que veio a ocorrer, de forma dorida, mas profundamente reparadora.

Esta história que me contou o Pe. João reflete a sua genuína atitude: Deus é Amor; Deus é perdão. Por isso, muito maior do que o nosso erro, o nosso pecado, é o perdão e o amor com que Deus nos conforta, sempre. E essa é a missão da Igreja, no mundo. Essa foi a missão do Pe. João, durante a sua vida.

Muitos foram os que voltaram à vida porque com eles se cruzou, um dia, a vida do Pe. João.

E houve, nesse dia, mais alegria no Céu.

Essa é herança maior deixada pelo Pe. João à Igreja de Aveiro, que tanto amava: que dê ao Céu renovadas razões para se alegrar.