Sex. Abr 19th, 2024

Pe. Georgino Rocha

Jesus está em Jerusalém e passea pelo Templo no pórtico de Salomão. Decorria a festa da Dedicação que fazia a memória da sua re-consagração, após a profanação ordenada peloo Rei Antíoco IV. Um grupo de judeus questiona Jesus sobre a sua identidade. O diálogo é longo com perguntas muito directas e respostas cada vez mais pertinentes. João apresenta-o no capítulo 10 e a liturgia de hoje destaca os versículos 27-30, centrados na relação singular que explicita aquela identidade. É a relação recíproca entre Ele e Deus Pai, entre Ele e os discípulos, Entre Ele e os que vierem a seguir os seus passos. (O seu rebanho, em linguagem pastoril).

João, o evangelista, recorre a uma parábola que fica conhecida pela parábola do Bom Pastor que cuida zelosamente do rebanho. Usa a linguagem do tempo. Familiar e expressiva. E nesta passagem traduz aquela relação nos verbos escutar, conhecer e seguir. E, em jeito de justificação, acrescenta: “Eu e o Pai somos um”.

“Escutar, anota J. M. Castillo (La Religión de Jesús, ciclo c, p. 199). é o mesmo que interessar-se pelo que diz e obedecer-lhe ao que escuta; conhecer as ovelhas indica uma relação de mútua compreensão e aceitação; seguir define a forma de vida do discípulo que se fia de Jesus, deixa tudo por Ele e identifica a sua vida com a do pastor, como o pastor identifica a sua com a daqueles que pastorea” Que grandeza de mensagem e simplicidade de comunicação! Constitui uma estimulante referência para todos os tempos, pondo em realce os traços marcantes dos que são chamados a, em nome de Jesus, serem pastores na humanidade, sobretudo na Igreja. Escutar é a primeira característica do discípulo pastor. Expressa a atitude permanente de quem vive a relação fundante.

Seguir Jesus é escutar a sua voz que nos chega de tantos modos: no rosto das pessoas, na beleza da natureza, nas feridas dos maltratados e em tantos outros cobertos de chagas; no ambiente familiar que cultiva o amor terno e fecundo, nos espaços educativos que promovem os valores integrais; na leitura da Bíblia e na celebração do domingo – dia que Lhe é especialmente consagrado – e na participação da eucaristia e em tantos gestos de bondade solidária e cristã. Seguir Jesus é estar atento aos factos e acontecimentos, descodificar o seu significado, prever os seus efeitos e a sua repercussão na dignidade da pessoa humana, na sociedade e na Igreja. Seguir Jesus é estimar a consciência individual e abrir-se à relação com outros, a fim de a confrontar em diálogo sincero e esclarecedor. Atitude que vai crescendo, felizmente.

Há atitudes diferentes em cristãos que dificilmente sintonizam com o Evangelho. Enumeram-se algumas: menosprezar a consciência e a sua responsabilidade ética; reservar à hierarquia o que diz respeito à Igreja, sobretudo no desempenho da missão; considerar os/as leigos/as eventuais “tarefeiros” quando solicitados; achar que os católicos divorciados-recasados não devem ter acesso a funções ou serviços na comunidade eclesial. Cultivar um olhar pessimista em relação à evolução da humanidade, dando a impressão de que o Espírito Santo foi “de férias” e tarda em voltar.

Hoje, celebra-se o dia Mundial das Vocações, dia especial para escutar a voz do Bom Pastor. O Papa Francisco, dirigindo-se aos Jovens, destaca a importância do encontro com o Senhor que desperta um novo fascínio na vida, exorta a que não se deixem contagiar pelo medo que paralisa a vista dos altos cumes e lembra que o Senhor promete a alegria duma vida nova que enche o coração e anima o caminho. (Mensagem para este Dia).