Qui. Abr 18th, 2024

Franclim Pacheco (Texto)

António Bracons (Foto) fasciniodafotografia.wordpress.com                       

Breve comentário

                Para Mateus o centro da actividade de Jesus é a Galileia, Jerusalém é a cidade da rejeição, o povo que prepara a cruz para ele. A chave de leitura da entrada de Jesus em Jerusalém é sugerida pela citação dum texto bíblico, introduzido com a fórmula habitual: «Isto sucedeu para se cumprir o que fora anunciado pelo profeta». A citação é uma montagem de dois fragmentos proféticos que anunciam a vinda do Senhor para salvar a cidade, representante do povo de Israel.

O monte das Oliveiras domina a cidade do lado do oriente (Ez 11,23) e dista de Jerusalém o caminho dum sábado (Act 1,12), cinco estádios (= 952 metros). Ao tempo de Jesus era considerado o lugar donde o Messias se iria mostrar.

O convite inicial baseia-se no texto de Is 62,11: «Dizei à filha de Sião: Eis que chega o teu salvador», mas também em Zc 9,9, que fornece a linha messiânica a toda a cena: «Exulta filha de Sião, rejubila, filha de Jerusalém. Eis que vem a ti o teu rei…». Mateus relê o texto profético na sua perspectiva messiânica, deixando de lado as duas qualificações dadas ao rei-messias no texto de Zacarias: justo e vitorioso. Assim, realça a única qualidade do messias Jesus: «manso», como também ele se apresentou antes como o messias «manso e humilde de coração» que promete a libertação e a paz aos oprimidos (Mt 11,29).

A ideia do messias «manso», não violento e pacífico, é vincada pelo facto de Jesus entrar na cidade de Jerusalém montado num jumento, a montada dos príncipes e chefes do povo em tempo de paz. Para fazer coincidir a cena evangélica com os pormenores do texto profético, Mateus faz conduzir a Jesus a jumenta e o seu jumento e afirma que Jesus, depois de os discípulos terem colocado os seus mantos, montou sobre os animais.

O clima real-messiânico da entrada de Jesus é sugerido também pelo gesto da multidão que estende os seus mantos no caminho. O grito de aclamação é tomado da invocação hoshî’anna’ («dá a salvação») do Sl 118,25. O mesmo salmo sugere as palavras de acolhimento do Filho de David: «Bendito o que vem em nome do Senhor» (Sl 118,26). Este salmo, cantado na festa das Tendas, dá o significado messiânico também ao pormenor dos ramos de árvores que a multidão espalhava no caminho. O salmista, depois das palavras de saudação dirigidas àquele que vem em nome do Senhor, convida a preparar «o cortejo com ramos frondosos até aos lados do altar» (Sl 118,27). Assim, aquele que entra em Jerusalém não é apenas um messias manso, desarmado e pacífico, mas também aquele que vem com a autoridade de Deus, como Senhor. A cidade que, com a sua rejeição e a condenação do messias Jesus, confirma a sua infidelidade histórica, deverá preparar-se para o encontrar como Senhor, juiz do fim dos tempos (Mt 23,39).

Um indício e presságio desta reacção ambivalente encontra-se na cena a seguir à entrada de Jesus. Toda a cidade de Jerusalém fica em alvoroço, tal como se perturbou com a chegada dos magos que perguntavam: «Onde está o rei dos judeus que nasceu?». Também agora circula a interrogação sobre a identidade daquele que fez a sua entrada real na cidade. A multidão que acompanha Jesus reconhece-o como «profeta». Jesus é um desconhecido para os habitantes de Jerusalém. A informação pode ser considerada também com uma ponta de polémica dirigida contra ela. O profeta Jesus chega até ela dum sítio desconhecido da Galileia, Nazaré.

Jesus é o messias pacífico e salvador que entra na sua cidade como Filho de David e Senhor, mas que se revelará como tal somente depois de ter vivido até ao fim o seu destino de «profeta» rejeitado, perseguido e morto (cf. Mt 13,57; 23,37).