Ter. Abr 23rd, 2024

Aveirense ilustre

Manuel Tavares, aguarelista de renome internacional

Cardoso Ferreira (Textos)

Natural de Oliveira de Azeméis, Manuel Tavares impôs-se no panorama artístico nacional como um aguarelista de renome internacional e um exímio retratista da Ria de Aveiro.

Apesar de ainda hoje, mais de quatro décadas após o seu falecimento, continuarem a surgir quadros seus à venda em galerias portuguesas, e até mesmo estrangeiras, Manuel Tavares é uma figura algo lendária, porque pouco se sabe sobre a sua vida pessoal, exceto que nasceu no Couto de Cucujães (concelho de Oliveira de Azeméis), no ano de 1911, e que faleceu no ano de 1974.

Como Aveiro foi uma das terras onde viveu e onde expôs regularmente, e como pouco se sabe sobre o seu local de residência e o seu quotidiano na cidade, há quem “pinte” a vida de Manuel Tavares com um “manto de nevoeiro” tão típico desta região, chegando a dizer que o artista viveu num barco típico da Ria de Aveiro, facto que poderá advir da enorme quantidade, e qualidade, de quadros em que retratou a ria, as suas gentes e as terras ribeirinhas.

No entanto, e não obstando ter sido um autodidata que nunca frequentou escolas de arte, a sua obra artística faz dele um dos nomes mais relevantes na aguarela portuguesa do século XX, como o provam os inúmeros quadros que todos os anos surgem em catálogos de galerias, tanto portuguesas como estrangeiras.

Manuel Tavares distinguiu-se como paisagista, tema em que se destacam as marinhas e a ria, e também como retratista de trechos citadinos. Das muitas exposições que realizou individualmente há que realçar as que tiveram lugar em Lisboa, no ano de 1942, em Almada (1961), Coimbra (1936). Das mostras coletivas em que participou, os destaques vão para as ocorridas na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa (1950 e 1952), a primeira Exposição dos Artistas de Aveiro (1970), a Grande Exposição dos Artistas Portugueses (1935) e ainda exposições realizadas em Lisboa (1952, 1966 e 1974), Almada (1961), Faro (1968), Matosinhos (1953 e 1963) e Porto (1935).

A título póstumo, a galeria aveirense “Grade” realizou, entre 19 de maio e 3 de junho de 1979, uma exposição de homenagem a Manuel Tavares. Este aguarelista também esteve representado na exposição “Aveiro – Natureza e Arte”, ocorrida no Museu de Aveiro, em setembro de 2015, juntamente com Artur Prat, Fausto Sampaio, Fausto Gonçalves, José de Pinho, Eduarda Lapa, Hélder Bandarra, A. Martin Maqueda, Carlos Rodrigues Santos, Jaime Borges e Vasco Branco.

Em 1944, Manuel Tavares pintou as aguarelas encomendadas pela Empresa Fabril do Norte para ilustrar dois dos seus então famosos calendários artísticos. Um deles, foi dedicado a temas rurais, como o ciclo do milho, e outro aos rios portugueses, trabalhos onde demonstra à-vontade na execução da aguarela, de mancha solta e grande economia de meios.

Manuel Tavares está representado em diversos museus, nomeadamente no Museu Soares dos Reis (Porto), de Aveiro, de Beja, de Faro e de Matosinhos, bem como em coleções privadas, portuguesas como estrangeiras.

Tal como o Hotel Arcada, de Aveiro, possuía aguarelas de Manuel Tavares, também o Hotel de Abrantes, inaugurado em 1954, tinha aguarelas deste artista aveirense, como refere o “Jornal de Abrantes”, publicado no dia 10 de outubro de 1954.

Alguns depoimentos

Depois de ter trabalhado como entalhador nas oficinas “Martins e Candeias”, em Aveiro, onde “foi artista muito cotado”. No catálogo da exposição “100 anos de artes plásticas. Aveiro 1882 – 1982”, referindo-se a Manuel Tavares, o artista ilhavense Cândido Teles escreveu “conviveu, a partir de 1938, em Aveiro com o aguarelista Alberto Sousa, que o entusiasmou à prática da aguarela. Foi um intérprete fiel da Ria de Aveiro, tendo particular interesse o esmero com que trata os céus e as águas serenas”. Mais tarde, quando da exposição evocativa de Manuel Tavares, promovida pela galeria “Grade”, este mesmo artista ilhavense realçou que Manuel Tavares foi “o primeiro aguarelista que vi interpretar os motivos da nossa ria, facto que me causou forte impressão e constituiu grande incentivo no começo da minha vida artística”.

Para o crítico de arte Mário de Oliveira, Manuel Tavares “foi dos maiores aguarelistas nacionais, pincelando a aguarela, com espontaneidade e grande impulso emocional”.

Ana Maria Lopes, no seu blog Marintimidades, sublinha que apesar de Manuel Tavares ser um “aguarelista de ambientes rurais, foi dos ambientes urbanos (Lisboa, Porto Aveiro), que nos deixou os melhores clichés. E, para mim, é o pintor da água, de céus azuis que nos retrata as marinhas de Aveiro, os moliceiros lagunares, os saleiros no canal de S. Roque e as redes a secar na Costa Nova, que mais me encanta (…) Mas, o que mais impressão me causou era o modo como o pintor conseguia obter os seus céus tão luminosos e as suas águas tão transparentes”.

Também no blog da galeria Lambertini se pode ler que Manuel Tavares um “aguarelista português, com uma produção prolífica, foi na expressão dos seus contemporâneos, uma figura paradigmática. Terá produzido milhares de aguarelas, grande parte retratando a sua zona de naturalidade – Aveiro – fixando em manchas subtis a labuta de camponeses e pescadores, enquadrados pelos rios e planícies portuguesas. Alguns evocam a venda de aguarelas nos Restauradores (Lisboa) e a visita sem desfalecimento a consultórios de médicos e advogados, comerciantes e industriais, tentando vender as muitas obras que ia produzindo com aparente facilidade (…) Todos os anos, dezenas de aguarelas de Manuel Tavares, surgem à venda nas principais casas leiloeiras portuguesas. Continua a ter colecionadores fiéis”.

 (A rubrica «Aveirenses ilustres» é promovida em parceria com o jornal diocesano Correio do Vouga)